quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Traga para mim este cálice

O álcool apagará tudo, a noite já é passada e o horror se foi. Não há nada para ser lembrado nem revivido. A tragédia matou os heróis e os mortos não provarão de sua própria glória. A minha ascensão é ladeira abaixo, refugiado na caverna úmida do amor, despedaçado pelo abraço alucinado das pernas da luxúria. Aguardo o som de uma canção pesada para me despertar do longo efeito de uma bebida forte; como os golpes que nos levam do torpor a vida, ou a bala que liberta o suicida. Apenas acenda as luzes e me chame pelo nome, antes que a noite acabe e não restem mais sonhos para viver. Esta manhã quebrei o espelho a fim de reduzir a pedaços o monstro que jamais me abandona, esbravejei e tentei machucar a todos; mas no fim, eu fui o único a sair ferido. A vida é uma longa queda, interrompida pelas mãos frias da morte antes mesmo de tocarmos o chão. As luzes se apagarão antes que você toque as mãos de sua amada, um punho cerrado encontrará sua cabeça, a brisa trará o incêndio e a vida terminará antes do dia.

Alysson David Reis

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre lençóis e sangue

Meus olhos são o espelho do terror, anjos caem do céu e alimentam o fogo na terra.

Nuvens de fumaça tomam forma de cordeiros, de dentes pontudos e garras afiadas.

Levo minhas mãos contra o meu rosto e me escondo em meus sonhos

Encontro-me em seus olhos e deito-me em teus seios.

Teu pescoço nu exala perfume, teus lábios carnudos me sopram sussurros e suspiros delirantes; teus dedos percorrem tua pele de maneira impiedosamente sugestiva.

Perturbado, febril, trêmulo, terrivelmente tentado... Meus olhos se abrem;

Gritos de horror me arrastam para longe de meus delírios.

Uma poça de sangue cresce embaixo de mim,

eu irei afogá-los, eu irei queimá-los, eu irei abraçá-los.

Eu fecho os meus olhos e volto a fugir. Minhas mãos percorrem a escuridão, meus dedos se estendem e nada tocam além de lençóis suados. A luz entrou pela porta e sua sombra deslizou para fora; deixando para trás o silêncio que se despede em seu nome.

Pesadelos virão me despertar deste sonho, as sombras se deitarão sobre mim e me apagarão da face da terra.

Meus joelhos tocam o chão, feridas gotejam e a poça de sangue volta a crescer, como um lago vermelho brotando da terra.

Eu me inclino sobre estas águas, eu vejo sombras que desenham formas femininas, serpenteando sinuosas nas profundezas.

Lentamente eu me deito em seus lençóis vermelhos, mergulhando, morrendo, desaparecendo...

O silêncio absoluto apaga o mundo em minha mente, embaixo da superfície o céu desaparece, o inferno se apaga e tudo escurece.

Alysson David Reis

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Registros remanescentes de momentos atormentados de sábia loucura


O deserto é uma dádiva, a solidão entra em sincronia com meus pensamentos e nuvens negras abrigam meus ombros do sol hostil. Estou pairando acima de um lago gelado, meu corpo refletido estende sua mão e me puxa para baixo. Ouço um clamor que vem das montanhas que tocam o céu; ouço uma canção que vem do inferno e vejo o horror estampado na face deformada da terra.

Escrevo-lhe estes poemas, que se tornam epitáfios de cada dia que se finda, de cada pessoa que se despede e de cada garrafa que se esvazia... Mas esta tudo em minha cabeça. É só um pedaço de papel queimando em minhas mãos; a mesma bala queimando a pele, comendo a carne. O céu é um manto azul que encobre os pecadores aos olhos de seu criador arrependido. Caminho acima do inferno, bebendo da taça que está vazia, enganado por olhos que transbordam.

A última taça, incompleta como um corpo sem vida, derradeira como cada dia, finita como a existência. Nós existimos para a beleza da tragédia ou do esperado final feliz. Existimos para ser a composição de um poema e viver para sempre em uma canção. Essa capacidade da tragédia de conceber a beleza é terrivelmente bela, tão bela quanto a fragilidade, tão fascinante quanto a violência... Tão dolorosamente bela quanto a vontade de machucar. Essa vontade atormentada que queima na ponta de meus dedos trêmulos, que faz com que eu me tranque, para que o assassino não saia e a vítima não entre. A vingança sem origem, punhos cerrados sem direção; os pés cansados sem nenhum caminho a seguir. Só me resta adentrar na escuridão do desconhecido, para onde sempre me levam os meus desejos.

Alysson David Reis

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A última dança antes de se deitar


Imagine uma melodia, que possa seguir de perto um assassino... Imagine uma canção que possa te trazer dor e libertação e ajude-me a compor algo para o seu enterro...
Uma boa hora para se matar
Uma boa hora para matar
Eu te presenteio com seu último dia de vida
Eu te presenteio com minha partida, um encontro foi marcado;
Há uma mesa reservada no inferno.
Ela dança enquanto se contorce no chão, eu danço a sua volta
Uma faca em seu peito e uma bala em minha cabeça
Estamos sendo guiados nesta dança dolorosa, vamos ferir tudo que é vivo
Vamos machucar quem nos ama e gargalhar cuspindo sangue
Minha calma é pura raiva, meu ódio é puro amor e minha vida é um atalho para morte
O frio é intenso, o nariz sangra, o estômago queima e a cabeça dói; as mãos tremem, as pupilas dilatam, ossos partidos rasgam a carne...
A dor existe pra nos lembrar de que ainda vivemos e a morte existe pra nos curar
Imagine uma canção que reacenda teus olhos e que te faça matar
A última dança antes de se deitar com as sombras em tapetes de fogo
Imagine uma canção que continue tocando quando as luzes apagarem e nossas vozes se calarem. Imagine uma canção que carregue em seus versos a existência e leve consigo a dor a cada lembrança que levar um fragmento de teu nome.
Alysson David Reis

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Fogo no firmamento

Sob efeito de uma calma doente, a carcaça cansada procura abrigo do sol sob a sombra da morte. Busco lá fora o que esta dentro da minha cabeça, irei parti-los e despedaçá-los em busca de suas almas, que a muito abandonaram suas moradas. O silêncio absoluto e a palidez da quietude refletem tormento e inquietação. Há um deserto nas ruas e um abismo nos corações, que abriga todos os demônios do inferno. Há algo na escuridão lá fora, que morreu sem ser conhecido; há algo dentro de nós, que nos matará antes de ser revelado. Alguém me espera de dentro do abismo, seu nome jamais foi dito, seus olhos jamais foram vistos e suas palavras jamais foram escritas. Porém os seus gritos jamais deixaram de ser ouvidos, para que o desconhecido jamais deixe de ser lembrado. Esta noite, a mente dará a luz ao que teus olhos nunca viram e tua companheira, a solidão, o entregará nas mãos de teu pior inimigo.

Alysson David Reis

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A você que se lembra de mim ...

A você que se lembra de mim, em algum lugar que por mim foi esquecido. Eu tenho ido aonde nunca chegamos, eu tenho visto o que nunca imaginamos... Eu tenho sido quem você nunca conheceu. Eu atravessei a fronteira de onde acreditávamos não haver nada e encontrei aquilo que nos aterrorizava de dentro da escuridão. Eu me tornei o que não compreendo, há uma voz em minha cabeça que balbucia uma língua extinta. O que não vemos é o que nos segue de perto e o que tememos é o que somos por dentro. Há uma estrada em meus olhos que te conduzirá ao fundo de minha mente, há uma porta no escuro esperando para ser aberta... Há uma face cortada que esta exposta na galeria, seus olhos são espelhos que refletem tudo a sua volta. A pele cheia de cicatrizes é uma parede cheia de retratos.

A você que esta perdido nas lembranças da dor, a você, parado atrás da porta... A você que esta morto na imensidão obscura da memória. Eu o saúdo de dentro da sua cabeça, eu sou uma memória que esta desaparecendo e isto é um sonho que esta terminando.

Alysson David Reis

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O mundo segue sem mim, contudo não deixo de seguir a multidão de longe. Talvez esperando surgir à besta que os devorará diante dos meus olhos. Não que eu odeie tudo, apenas tenho esperado por muito tempo por um pouco de silêncio. Enfrentando cada manhã na esperança de encontrar paz na noite, atravessando cada noite temendo o dia que se aproxima. Tenho me cansado sem esforço, tenho odiado sem razões e tenho falado sem ser ouvido. Tudo o que busquei se mostrou não ser exatamente tudo o que eu queria, pois na verdade não havia nada que eu quisesse no mundo. Será a redenção o que busco? O inferno apagará a suposta culpa? Contudo não estou calmo o suficiente para ser crucificado, e nem mesmo me restou raiva suficiente para incendiar o inferno. O sol poente é uma fogueira que me atrai no horizonte, encontre-me na fronteira que separa dia e noite para sempre...

Alysson David Reis

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sangue, bebida e suor: O retrato de uma dessas noites

O que nos tornamos além de pessoas cansadas? Nada seremos além de retratos, nada nos restará além de lembranças amarguradas e embriagadas. O amor por vezes nos maltrata e nos consome. É um drink de suor, saliva e lágrimas. Contudo pior é a agonia da distancia do que o impacto da proximidade. O livro continua aberto na mesa, mil poemas para descrever a mesma velha dor. Todos os dias chegamos ao fim do que penssávamos ser a vida, mais um capítulo da trágedia que continua a ser escrita em jornais manchados de sangue. Alimentamos o que nos consome e depois matamos uns aos outros para consumir o que nos mata, nada durará até o amanhecer. Há sexo nas ruas e morte nas esquinas, eterna será a noite de quem jamais verá o dia. A paisagen noturna se confunde com a escuridão interior enquanto a lascívia acende o fogo em nossos olhos, iluminando nossas faces, guiando nossas mãos, aproximando nossos lábios e aquecendo nossa pele. Dedos afáveis e carícias violentas, mergulho em sua pele e dreno seu perfume. Corpos se comprimem uns contra os outros, esmagando a solidão que não para de crescer como uma cova em baixo de nossos pés.

Maldito aquele cujo a garrafa esta vazia e feliz aquele que morre vítima do próprio desejo. Porque uma vida sem paixão é um livro sem palavras, o infinito é o nada e o nada é tudo o que somos.

Alysson David Reis

P.S.: É melhor ter a morte caminhando ao seu lado do que em sua direção.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O bar da estrada

Arranhou a porta que abriu com o vento, atravessou o salão e tocou-me no ombro.

Soprou as cortinas e saltou a janela.

Sombras gigantes dançam incessantes diante da frágil luz da vela.

Tremula e suplicante a pequena chama se contrai sob o açoite de respirações entrecortadas.

Porém nada se move... Nada se houve.

Meus convivas se calaram, não mais cantam nem se movem.

Tais como estátuas no cemitério, ídolos sem glória no infame altar da taberna.

Seus copos estão vazios, seus cinzeiros estão cheios e seus olhos estão secos.

Seus lábios balbuciam sem emitir som, nada dizem, nada declamam...

Não mais se contorcem em paixões febris, a loucura não mais cintila em seus olhos e o vinho não mais escorre da boca.

Pálidos e silenciosos encaramos uns aos outros a fim de encontrar olhares perdidos.

Extraindo do silêncio palavras esquecidas.

Lembranças insones obscurecem pensamentos e restos de sonhos tomam formas fantasmagóricas.

Assombrando corredores infestados de retratos.

Contando histórias de almas solitárias que aqui passaram e aqui me deixaram. . .


Alysson David Reis

terça-feira, 27 de julho de 2010

O estranho

No dia em que despertar e a porta estiver aberta, e a casa estiver vazia. Quando seus lençóis estiverem frios, quando não conseguir ouvir nada além de sua respiração e seus passos forem os únicos no longo corredor que o levará para longe de seu quarto seguro. Quando o último rosto amigo estiver pendurado na galeria morta sob a lareira que jamais crepitará. Quando os personagens de suas lembranças nebulosas lhe lembrarem de que estás só, quando retratos sujos lhe lembrarem de que um dia eu existi e então perceber que não estou mais aqui... Lembre-se de que eu sou você, e quando novamente se esquecer de mim apenas lembre-se de quem és porque eu sou você. E o estranho estará no espelho, meu rosto penduarado na parede descascada será teu único reflexo e na tua solidão terás medo de tua única companhia...

Eu sou todas as pequenas emoções confinadas em teu quarto úmido

Eu sou todas as pequenas visões na espessa fumaça

Eu sou a sombra dançante na parede

Sugue-me em tuas veias, absorve-me em tuas narinas, deixe-me contaminar teus olhos

Bebe-me, consome-me

Eu te violento de dentro para fora

Eu me misturo em teu sangue, impregno teus sonhos,

Alimento teus demônios,

Eu sastifaço tua dor

Eu sou a aparição em teu espelho, a respiração em teus ouvidos

O ruído no escuro

Eu me movo em teus lençóis

Eu respiro em teus poros, eu sou o sangue em teus olhos

Eu habito tua mente, eu danço em teus delírios,

Componho teus poemas

Eu sou a insânia, a morte, o fim...

Eu sou a criança flagelada, a infância molestada...

Eu sou teu choro contido.

por Alysson David Reis

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Rios vermelhos



Um conto soturno para uma criança solitária,
em um deserto gelado,
d
entro de uma noite sem fim.
Ondas raivosas devoram rochas antigas, um quadro surreal do horizonte mais belo.
Na praia mais distante ao fim da estrada mais longa.
No fim da mais saudosa história já escrita, onde a garrafa chega ao fim e o vinho derramado se mistura ao sangue corrente.
Figuras medonhas dançam na fumaça, olhos flamejantes surgem nas brasas.
Como anjos de fogo dançando no inferno.
Nuvens cinzentas regam terras mortas, flores sedentas brotam dentre ossos secos.
Lágrimas orgulhosas conduzem olhos altivos até tocar o chão ensanguentado...
Veias transbordantes percorrem a terra. Rios vermelhos contornam olhos inocentes, alimentam bocas secas e lavam mãos violentas. Deixe a fogueira arder, continuemos a dançar. Deixe que o espírito queime e a fumaça suba. Rios de sangue refletidos no céu avermelhado. A paisagem noturna, o berço do nada... Refletido em seus olhos e enterrado em seu peito.
Alysson David Reis

domingo, 18 de julho de 2010

A última noite na terra


E se a mente não retornar do sonho mais temido? E se não puder voltar de um gole mais fundo? E se não puder acordar depois de uma noite mais longa?

Quando as pupilas dilatarem e o clarão do fogo crepitante consumir os olhos

Quem cobrirá nossos rastros antes da loucura nos encontrar?

Pra onde iremos quando o dia se for e a noite não nos trouxer consolo?

Quem seremos nós quando o espelho esconder o rosto?

Siga a trilha de sangue e dançará em círculos...

Siga os passos do assassino e chegará lá sozinho.

Alysson David Reis

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Não quero habitar seu coração mas a sua mente, como um pensamento que nunca morre, uma idéia suicida ou um impulso homicida, o desejo febril. Não quero ser lembrado mas irei lembrá-lo de seus temores, irei provocar os desejos que o torna louco e suscitar as lembranças que o torna sozinho.

Em nome da beleza brutal, do calor da pele e do sangue nos olhos, invoco tudo o que é visceral, violento e frágil. Tudo o que é viciante, erótico, sujo e obscuro, tudo o que é medonho, atraente e nocivo, tudo que é odioso, tudo que é fodido. Tudo o que é doloroso, carnal e belo. Sem honra, sem glória apenas o desejo, a satisfação e a overdose. Alimente o vício e morra de fome. Essa é a estrada para o inferno, ignore o destino morrer é só uma consequência de viver, dor é uma consequência de sentir e pesadelos são o preço da capacidade de sonhar. È preciso queimar para iluminar...


Alysson David Reis

segunda-feira, 12 de julho de 2010

20h30min e a noite acaba de abrir as cortinas, o céu esta estampado na janela e o inferno esta batendo a porta...

O copo esta vazio, o corpo quer parar e a mente quer sair para um drink em meio a fumaça ou uma dança em meio ao fogo. Sinos dobram dentro de minha cabeça anunciando o momento em que se abre a grande e pesada porta, deixando sair a luz que sonhamos encontrar ao fim do túnel lodoso deste esgoto a céu aberto. Mas é só o fogo do inferno reluzindo novamente, como uma lamparina nas mãos do ceifeiro conduzindo o moribundo no caminho das trevas. Olho para o chão buscando o reflexo das estrelas na poça suja, então sigo a luz até a grande porta. De dentro do clarão alguém me chama, eu caminho pra luz e então percebo que é apenas a lâmpada no teto de meu quarto. Sento-me a beira da cama e então percebo, somos todos crianças no escuro buscando um ponto luminoso dentro das trevas. As estrelas se distanciam da terra ao passo de que se aproximamos do fogo...

Acredito que o inferno é a eterna lembrança de nossa vida anterior, a eterna culpa queimando seus ossos. A visão de seus pecados se repetindo durante toda a sua eternidade. Como fantasmas que te visitam constantemente para lembrá-lo de quem você é e porque esta ali. Lembrá-lo de que existe um paraíso e que você jamais entrará lá, pois até o diabo sonha secretamente com o paraíso de dentro do inferno. Inferno é a eterna saudade de tudo e de todos que amou, a eterna saudade do que não lhe foi dado tempo de viver... a eterna consciência de que você poderia ter sido melhor.

Alysson David Reis

domingo, 11 de julho de 2010

A estrada perdida

Há estrelas no céu e fogo na terra... O vento esta em seus cabelos, o medo esta em seus olhos, o silencio esta em sua boca e o sangue em suas mãos. Ao fim da estrada que se estende na escuridão dois olhos fumegantes se aproximam furiosamente trazendo o brilho do fogo do inferno. As estrelas caem do céu, os anjos deixam a terra e o fogo se alastra nos campos. Sua respiração exala cheiro de carne queimada, os cães estão em seu rastro e a morte caminha a sua frente. Respirou fundo olhou para o céu e riu desesperadamente... Os olhos de fogo se aproximavam. Cavalgando ensandecido, um corcel tão negro quanto seu próprio coração e aquele terrível brilho infernal nos olhos. O medo e a insanidade percorriam seus nervos eletrificados, o cavalo negro estava apenas a alguns passos. Os olhos terrificados assistiram a sinistra criatura passar por ele e se distanciar cortando a fumaça que invadia a estrada. A face deformada pelo terror, os membros paralisados... As lágrimas saltaram dos olhos, os joelhos foram ao chão, a mão pressionou o peito com força, o suor gelado pingava da fronte.Caiu lentamente, virou de lado, olho para trás e viu o corcel ainda se distanciando enquanto os cães se aproximavam .Uma última lágrima caiu dos olhos, a mão trêmula se estendeu para o ar até cair e bater no chão.

Alysson David Reis

sábado, 10 de julho de 2010

Eu olho para trás e vejo um passado cada vez mais belo. Como dizia o poeta: "tenho saudades do que não vi,sinto a falta de dias que não vivi".Tenho desgosto de minha geração e o futuro já não guarda mais a esperança que os antigos tiveram em nós.Nosso futuro é fonte de terror e medo ao passo de que nosso passado nos deixou como legado a saudade e a dor de quem já viu dias melhores.Um dia ouvi uma frase em um filme que dizia: “todos temos nossas máquinas do tempo, as que nos levam ao passado são as lembranças e as que nos levam ao futuro são os sonhos.” E agora a sensação que tenho é a de que as lembranças são mais utópicas que os sonhos.
O presente é a prova definitiva de que os sonhadores que vieram antes de nós falharam. O que será então do futuro de uma geração sem sonhos.Não há mais poesia, a arte está deformada e o gênio criativo sufocado.Toda manifestação artística e qualquer demonstração de humanidade é severamente suprimida pela própria
juventude que um dia concebeu a arte.
Tenho nojo deste mundo.
Sou um estranho onde quer que esteja não pertenço a esta época. Ou pelo menos não queria pertencer. Minha arte não tem valor para quem é incapaz de interpretá-la, meus pensamentos estão entregues as paredes e minha alma a solidão. Em toda a minha vida eu fui punido por ser um pensador,fui perseguido e torturado por ser diferente.O preço de ter uma alma me concedeu talentos inúteis para o capitalismo e para socialização.E assim, meu direito natural a um lugar no mundo me foi tirado.E no fim agradeci por estar sozinho.Sozinho estou seguro, sozinho posso ser eu.Contudo não suporto olhar lá fora,tenho nojo de andar nas ruas,tudo me aborrece e a humanidade me causa asco(e eles nem sabem o que significa asco).A maioria das companhias humanas ou me irrita ou me fere, a maioria das atividades a que sou submetido ou me aborrece, ou me entristece ou me consome.Tudo é cansativo, estou cada vez mais desapegado da vida.Por hora é tudo o que sei,tudo o que consigo dizer ou sentir...

...adeus por agora.

Alysson David Reis