segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma vida estranha vislumbrada em um quarto esfumaçado,

Como um espelho que se apresenta na embriaguez e revela a verdade de visão turva.

A verdade nos condena a loucura, assim declarou o anjo antes de entrar no inferno.

Assim nos levantamos depois de cairmos, assim se ergueram nossos corações depois que nossos ossos se partiram.

Éramos crianças na palidez de um sol que se deitava;

e agora somos sombras perseguindo pés cansados.

O tempo foge de mim, minha voz desaparece e então você chora

Embaixo de meus pés mãos estendidas aguardam minha queda

Minhas mãos se fecham em torno do sol e então se recolhem

Eu trarei a noite em meus ombros e não a levarei de volta

E quando seus olhos se fecharem, quem desaparecerá sou eu.

Alysson David Reis

Bailarinas mortas

O tempo é um animal indomável e um assassino cruel; não há heróis nem antagônicos que permaneçam de pé após a passagem prolongada e dolorosa da lâmina que esta presa a sua calda. As lágrimas fervem, arranhando meus olhos por dentro, como um cão implorando para sair. A vida tece a morte; e nesta sinfonia quem encena a tragédia é a platéia. Aplausos e flores, as cortinas descem, as bailarinas caem e o silêncio se pronuncia. Como um poeta, como um deus; anuncia a morte de tudo que permaneceu belo depois da queda. A queda do anjo é o nascimento do homem, a origem da arte, a nascente das lágrimas. Sobreviveremos ao sonho, mas morreremos antes mesmo que a canção termine. A lua ilumina os rostos pálidos que se aproximam famintos pela dor e sedentos pelas lágrimas. As cortinas descem, a penumbra se ergue e a luz se recolhe; como uma dama em chamas que se deita no escuro.

Alysson David Reis

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Antes do escurecer

Não resta nada para ser visto antes do escurecer.

Esta viagem esta chegando ao fim e paisagens inteiras irão desaparecer antes de nós. Um incêndio em seu corpo ilumina meus olhos, vamos alimentar a fogueira

Como a canção que alimenta nossos lábios, como os justos alimentam os lobos

E como a inocência alimenta o mal.

Mergulhados nos lençóis, vivendo o sonho e matando o que ainda é vivo.

A dor já extinta voltará antes do fim e morrerá ao nosso lado.

A poeira da estrada varrerá a pureza dos corações que a trilharem

O paraíso esta refletido nas águas e as águas estão sujas de sangue.

Que se espalha e me encobre, como as mãos do carrasco ou as carícias da minha garota.

As crianças se foram, os heróis morreram e os lobos caminham nos jardins,

Colhendo flores e enterrando donzelas, na fronteira que desaparece a cada pôr do sol.

Os sonhos florescerão na tumba do sonhador, como a promessa de um dia que passou sem ser visto.

Alysson David Reis

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

11/02/2011 - 04:16 da manhã

Há muito tempo este tem sido meu único modo de falar, meu único modo de ser, meu único modo de existir. Escrever se tornou sinônimo de viver, já que a maior parte da minha vida é imaginária e a outra parte é feita de lembranças. Até mesmo o presente já é parte desta coleção de memórias, que vem e vão em noites vaporosas, como companhias estranhas; os meus velhos visitantes desconhecidos. Para quem eu escreveria pela ultima vez? Senão para cada habitante dos quartos vazios que preenchem os longos salões da minha mente. Que já não é mais tão confiável e ainda assim tem sido um lar para os mais loucos pensamentos e para as mais solitárias companhias que encontrei nos becos escuros do acaso ou nas tramas torpes da vida. Da vida bem vivida, através de momentos bem vividos. O que posso deixar além de palavras incapazes de serem compreendidas por qualquer vestígio de razão?

Meu legado são restos mortais espalhados em cada poema, em cada ato impensado ou em cada instante apaixonado ou embriagado. Deixo a paixão pelas coisas simples, pela vida, pela morte, pela arte de viver plenamente como um verdadeiro poeta deve fazer. Que me siga qualquer carcaça que ainda carrega uma alma ou qualquer assassino que tenha se apaixonado por sua vítima.

Alysson David Reis