terça-feira, 2 de junho de 2015

Eu sou...

Com ou sem minha permissão, irá acontecer, desejando ou não, o Rei Lagarto irá terminar sua obra. E assim, no final que se provou mais apropriado, eu mesmo me tornarei o tema do derradeiro poema. Eu sou o Rei Lagarto, mas o Rei não sou eu. Serei então despedaçado, espalhado e reorganizado em versos; nas páginas em branco que me restam. Eu o criei para que me destruísse, eu o compus para então ser decomposto entre seus dedos. Eu sou a vítima de minha própria obra. As mãos que esmagam minha garganta me pertencem; sou eu o culpado, o assassino, o violador, a doença... 
Sou eu a resposta para a pergunta que há tanto tempo já esqueci. O nome que me foi dado, me foi dado para ser apagado; o nome que escrevi, escrevi para me substituir. Eu sou a sombra que lidera a legião de pesadelos, que desabam feito pedras sobre minha cabeça insone.
Só estou aqui por que o descrevi; o melhor dentre os piores e senhor daqueles que não se curvam a ninguém. Eu sou o que compus, eu compus o que sou e compus para que fosse varrido da existência tudo o que já fui...
Eu sou o Rei Lagarto e no entanto o Rei não sou eu! Pois sou aquele que cria, para então existir...


Alysson David Reis