sábado, 27 de dezembro de 2014

Dia santo(Palavras do Lagarto)

Um sinal de fumaça, um aranhão na porta, um espaço comprimido entre as insignificâncias do tempo
O dia em que dentre tantos outros, os meus bolsos sentiram o peso do nada
Em contraste ao peso dos escombros sobre meus ombros
E meus próprios ombros são escombros, sobre a morada do meu espírito
A poeira me cega os olhos e o calor dissolve o discernimento
O tremor da terra vem do rancor que pesa em meus passos
O vapor que se ergue do asfalto, é um afago para meus pensamentos que pairam no ar
É a remanescência das poucas lágrimas que ainda sou capaz de verter  por aqueles que não conheci, mas ajudei a enterrar
Nas densas camadas de indiferença
Das virtudes que pecam em sobrepujar as nuances de humanidade ocultas entre os trapos da moda
O dia em que senti o gosto de areia nos lábios
O dia em que ouvi o clamor do sangue entre as unhas
O grito extenuado incapaz de atravessar a máscara fossilizada que é a Verdade
A Verdade eleita para governar os desejos e punir os sonhos
Alysson David Reis



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Minhas mãos buscam o punhal

Toda esperança é um desperdício
Todo amor é um náufrago, se afogando em um mar de promessas
Eu já gastei todos os meus sonhos nas fronteiras que dividem a imaginação
Os anéis abandonam os dedos, o orgulho rejeita o ego
E agora esta morto o homem que desejei me tornar
Eu escrevi a tragédia e me tornei a peça
Eu encenei a alegria e vivi a dor
Eu morri mais de uma vez em nome de ninguém e por razão nenhuma
Inominável é meu nome, indigente sob a terra que ajudei a semear
Sob as asas incandescentes do sol, descansarei
Louvado seja o chicote dos justos que me condenam ao trabalho em vão
Louvada seja a ira que me fortalece, até o dia que tomarei a força a vingança que me negam
Ai de ti, que bajula teu carrasco. Pois tua garganta pertence as minhas mãos cansadas.


Alysson David Reis 

sábado, 26 de julho de 2014



A dança sem fim

Máscaras permanecem impunes
Segredos permanecem sagrados
Ainda que sejam revestimento de um baú vazio
Uma chama em uma prisão de vidro iluminando um caminho em círculos
A mesma dança herege
A celebração do paraíso inabitável
O fruto que proibimos para então desejá-lo
Esta é a canção que precede o nome mais antigo
A primeira noite após o último dia
A queda definitiva do sol devorador de mundos
Aproxima o rosto das águas e contempla o céu mais de perto
Mergulhe na vida que foi tirada
Pelas mãos do ímpio e em nome do justo
Receba o coração da vítima voluntária e dá de comer ao que não tem alma
Esta é a dança primitiva que seduz a modernidade
E conduz a flecha do selvagem
A mesma dança herege, outrora sagrada
Imortal após a morte
Infinita até o fim


Alysson David Reis

O estranho solitário no meio do caminho

Estranho é se pegar falando sozinho sobre coisas das quais ninguém se lembra
Faz com que você se sinta um tanto solitário
Estranho é se sentar ao ar livre e esperar pela chuva
Estranho sou eu
Havia rastros além dos meus ao longo do caminho
Quando costumava haver um caminho
Quando uma única lembrança era o preço de uma vida inteira


Alysson David Reis 

quarta-feira, 2 de abril de 2014


Vênus em fúria

O quarto esta quieto 
A noite fez silêncio, esperando que a morte aconteça 
Minha mente insone mantêm a fogueira acesa
Sombras que saltam da fumaça rabiscam nas paredes do crânio
Não há um instante em que eu feche os olhos sem vê-la 
Todos os meus desejos e sonhos sabem o seu nome 

Minhas mãos queimam e meus olhos transpiram a cada movimento em baixo de sua pele 
O calor da sua vontade, o incêndio que move teus seios
O suor em seus lábios são um convite, para dançar uma ciranda no círculo de fogo 
A morte se lembrará de mim quando você esquecer o meu nome
Assim como a solidão não me deixa esquecê-la 

Seus olhos passam por mim 
Buscando algo além  de palavras no escuro;
deixando um corte em minha garganta 
gosto de sangue em minha língua;
e uma camada de  silêncio indecifrável ...

Daqui posso ouvir vozes embaixo de suas têmporas
O que desejo esta além de suas formas
Só o fogo pode revelar
Sua pele encobre crimes
Que só o desejo é capaz de cometer

E eu sou um criminoso aguardando as chances
Que só sua solidão pode oferecer
Cada ferida que cavar será uma porta aberta
Um corte após o outro
Até estar enterrado em você

Alysson David Reis 









quinta-feira, 13 de março de 2014


Vermelhidão

Encontrei a paz, pois encontrei o silêncio
Cortesia da morte das massas
Ha mais formas de morrer do que formas de vida
O legado é a vastidão do deserto árido e pacífico
O último deus do último século me elegeu para enterra-los,
para herdar os ossos e roubar os reis mortos

De cada religião eu escolho um pecado
Existe um paraíso para cada um, mas o inferno é para todos...
Os anjos que restam são os abutres no céu
E o céu é vermelho; é o espelho da terra seca fendida aos seus pés 

Os deuses caíram sobre nós
com a fúria antiga dos que dormem em cemitérios clandestinos
Tragando a fumaça do nosso sacrifício e bebendo as lágrimas do primeiro filho
O último de nós contará histórias para o fogo
O último de nós herdará a morte de todos...
O último de nós desejará ter morrido com o primeiro

Alysson David Reis




terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A hora morta

Sempre que me sinto melhor, eles vem a minha porta para me lembrar de que posso ser pior do que meus  pecados sugerem...
sempre fica um pouco mais escuro antes de vê-los, antes de ouvi-los... antes que machuquem.
Eles nunca me causam dano, gostam de que eu assista; eles querem que eu veja do que posso ser capaz.
Me deito no tapete enxarcado de sangue, 
hordas de olhos de vidro e dentes brilhantes passeiam no escuro em ondas suaves, girando em silêncio.
Recolho as mechas de cabelo espalhadas no chão e aproximo do meu rosto
Aspiro perfume, medo, dor e os últimos vislumbres de um sonho
Posso vê-las suando, suspirando entediadas, desejando, entorpecidas... 
a maquiagem borrada, o vestido sujo e a mente finalmente pura.
E quando finalmente volto a me sentir bem, eles se vão...
Levando embora tudo o que aparentemente sou capaz de amar.
Não são os gritos que me apavoram, nem o som inquietante do choro amargurado;
é o silêncio que fica respirando em meus ouvidos, dos que ficam sentados ao meu lado...
sem falar, chorar ou sonhar...   

Alysson David Reis