terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre lençóis e sangue

Meus olhos são o espelho do terror, anjos caem do céu e alimentam o fogo na terra.

Nuvens de fumaça tomam forma de cordeiros, de dentes pontudos e garras afiadas.

Levo minhas mãos contra o meu rosto e me escondo em meus sonhos

Encontro-me em seus olhos e deito-me em teus seios.

Teu pescoço nu exala perfume, teus lábios carnudos me sopram sussurros e suspiros delirantes; teus dedos percorrem tua pele de maneira impiedosamente sugestiva.

Perturbado, febril, trêmulo, terrivelmente tentado... Meus olhos se abrem;

Gritos de horror me arrastam para longe de meus delírios.

Uma poça de sangue cresce embaixo de mim,

eu irei afogá-los, eu irei queimá-los, eu irei abraçá-los.

Eu fecho os meus olhos e volto a fugir. Minhas mãos percorrem a escuridão, meus dedos se estendem e nada tocam além de lençóis suados. A luz entrou pela porta e sua sombra deslizou para fora; deixando para trás o silêncio que se despede em seu nome.

Pesadelos virão me despertar deste sonho, as sombras se deitarão sobre mim e me apagarão da face da terra.

Meus joelhos tocam o chão, feridas gotejam e a poça de sangue volta a crescer, como um lago vermelho brotando da terra.

Eu me inclino sobre estas águas, eu vejo sombras que desenham formas femininas, serpenteando sinuosas nas profundezas.

Lentamente eu me deito em seus lençóis vermelhos, mergulhando, morrendo, desaparecendo...

O silêncio absoluto apaga o mundo em minha mente, embaixo da superfície o céu desaparece, o inferno se apaga e tudo escurece.

Alysson David Reis

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Registros remanescentes de momentos atormentados de sábia loucura


O deserto é uma dádiva, a solidão entra em sincronia com meus pensamentos e nuvens negras abrigam meus ombros do sol hostil. Estou pairando acima de um lago gelado, meu corpo refletido estende sua mão e me puxa para baixo. Ouço um clamor que vem das montanhas que tocam o céu; ouço uma canção que vem do inferno e vejo o horror estampado na face deformada da terra.

Escrevo-lhe estes poemas, que se tornam epitáfios de cada dia que se finda, de cada pessoa que se despede e de cada garrafa que se esvazia... Mas esta tudo em minha cabeça. É só um pedaço de papel queimando em minhas mãos; a mesma bala queimando a pele, comendo a carne. O céu é um manto azul que encobre os pecadores aos olhos de seu criador arrependido. Caminho acima do inferno, bebendo da taça que está vazia, enganado por olhos que transbordam.

A última taça, incompleta como um corpo sem vida, derradeira como cada dia, finita como a existência. Nós existimos para a beleza da tragédia ou do esperado final feliz. Existimos para ser a composição de um poema e viver para sempre em uma canção. Essa capacidade da tragédia de conceber a beleza é terrivelmente bela, tão bela quanto a fragilidade, tão fascinante quanto a violência... Tão dolorosamente bela quanto a vontade de machucar. Essa vontade atormentada que queima na ponta de meus dedos trêmulos, que faz com que eu me tranque, para que o assassino não saia e a vítima não entre. A vingança sem origem, punhos cerrados sem direção; os pés cansados sem nenhum caminho a seguir. Só me resta adentrar na escuridão do desconhecido, para onde sempre me levam os meus desejos.

Alysson David Reis