terça-feira, 26 de julho de 2016

Eu acredito nas promessas dos ébrios

Eu acredito nas promessas dos ébrios,
Ainda que suas palavras se esfumassem antes da ressaca e suas histórias se apaguem nas falhas da memória
Eu sinto falta dos dias que não levo em meu álbum velho
A vodka cria histórias
A vodka apaga histórias
Um brinde a você com quem compartilhei um cigarro naquela praça,
Que agora se distancia na forma de um navio que leva consigo saudosos estranhos
Para o lado mais penumbre da mente afogada
Aquela fotografia azulada vai ganhando tons de cinza na janela empoeirada do ônibus cheio de carcaças
A paisagem se estende, se despede e desaparece
O tempo que levo pra adormecer é a distância entre onde estou e onde gostaria de estar
O brilho do sol, o calor do dia e a jornada entre as horas passam despercebidos enquanto finjo viver a vida
Eu vivi para criar boas memórias
E as melhores que tenho se afundaram no mesmo copo de onde nasceram
Tenho em mim todas as saudades e nenhum arrependimento


Alysson David Reis 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Eu sou...

Com ou sem minha permissão, irá acontecer, desejando ou não, o Rei Lagarto irá terminar sua obra. E assim, no final que se provou mais apropriado, eu mesmo me tornarei o tema do derradeiro poema. Eu sou o Rei Lagarto, mas o Rei não sou eu. Serei então despedaçado, espalhado e reorganizado em versos; nas páginas em branco que me restam. Eu o criei para que me destruísse, eu o compus para então ser decomposto entre seus dedos. Eu sou a vítima de minha própria obra. As mãos que esmagam minha garganta me pertencem; sou eu o culpado, o assassino, o violador, a doença... 
Sou eu a resposta para a pergunta que há tanto tempo já esqueci. O nome que me foi dado, me foi dado para ser apagado; o nome que escrevi, escrevi para me substituir. Eu sou a sombra que lidera a legião de pesadelos, que desabam feito pedras sobre minha cabeça insone.
Só estou aqui por que o descrevi; o melhor dentre os piores e senhor daqueles que não se curvam a ninguém. Eu sou o que compus, eu compus o que sou e compus para que fosse varrido da existência tudo o que já fui...
Eu sou o Rei Lagarto e no entanto o Rei não sou eu! Pois sou aquele que cria, para então existir...


Alysson David Reis 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sobre viver, sobre matar e sobre trepar... (ou a primeira vez dos puros)

Talvez eu me torne alguém,
Talvez eu torne alguém feliz, ou talvez...
Talvez eu mate alguém,
Talvez eu me mate antes de matar
Só para matar o tempo
Para encerrar as apostas,
Dos que acreditam em meus sonhos mais do que eu mesmo
Seria o fim da espera, a vida não é lugar pra esperar
Os bancos de espera estão à margem do que significa viver
Você tem que abrir caminho na vida como a faca abre caminho na carne
Você sangrou sua mãe ao nascer então você tem que sangra ao viver
Dói existir, dói como a primeira vez
A primeira vez que se abre os olhos, a primeira vez que se respira...

Ou a primeira vez que as entranhas vaginais se abrem para inúmeras possibilidades de vida
Você tem que buscar as entranhas,
Busque as entranhas de quem desejar até encontrar as entranhas da terra.
                                                                                  
                                                                                   Alysson David Reis 

sábado, 27 de dezembro de 2014

Dia santo(Palavras do Lagarto)

Um sinal de fumaça, um aranhão na porta, um espaço comprimido entre as insignificâncias do tempo
O dia em que dentre tantos outros, os meus bolsos sentiram o peso do nada
Em contraste ao peso dos escombros sobre meus ombros
E meus próprios ombros são escombros, sobre a morada do meu espírito
A poeira me cega os olhos e o calor dissolve o discernimento
O tremor da terra vem do rancor que pesa em meus passos
O vapor que se ergue do asfalto, é um afago para meus pensamentos que pairam no ar
É a remanescência das poucas lágrimas que ainda sou capaz de verter  por aqueles que não conheci, mas ajudei a enterrar
Nas densas camadas de indiferença
Das virtudes que pecam em sobrepujar as nuances de humanidade ocultas entre os trapos da moda
O dia em que senti o gosto de areia nos lábios
O dia em que ouvi o clamor do sangue entre as unhas
O grito extenuado incapaz de atravessar a máscara fossilizada que é a Verdade
A Verdade eleita para governar os desejos e punir os sonhos
Alysson David Reis



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Minhas mãos buscam o punhal

Toda esperança é um desperdício
Todo amor é um náufrago, se afogando em um mar de promessas
Eu já gastei todos os meus sonhos nas fronteiras que dividem a imaginação
Os anéis abandonam os dedos, o orgulho rejeita o ego
E agora esta morto o homem que desejei me tornar
Eu escrevi a tragédia e me tornei a peça
Eu encenei a alegria e vivi a dor
Eu morri mais de uma vez em nome de ninguém e por razão nenhuma
Inominável é meu nome, indigente sob a terra que ajudei a semear
Sob as asas incandescentes do sol, descansarei
Louvado seja o chicote dos justos que me condenam ao trabalho em vão
Louvada seja a ira que me fortalece, até o dia que tomarei a força a vingança que me negam
Ai de ti, que bajula teu carrasco. Pois tua garganta pertence as minhas mãos cansadas.


Alysson David Reis