quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Antes do escurecer

Não resta nada para ser visto antes do escurecer.

Esta viagem esta chegando ao fim e paisagens inteiras irão desaparecer antes de nós. Um incêndio em seu corpo ilumina meus olhos, vamos alimentar a fogueira

Como a canção que alimenta nossos lábios, como os justos alimentam os lobos

E como a inocência alimenta o mal.

Mergulhados nos lençóis, vivendo o sonho e matando o que ainda é vivo.

A dor já extinta voltará antes do fim e morrerá ao nosso lado.

A poeira da estrada varrerá a pureza dos corações que a trilharem

O paraíso esta refletido nas águas e as águas estão sujas de sangue.

Que se espalha e me encobre, como as mãos do carrasco ou as carícias da minha garota.

As crianças se foram, os heróis morreram e os lobos caminham nos jardins,

Colhendo flores e enterrando donzelas, na fronteira que desaparece a cada pôr do sol.

Os sonhos florescerão na tumba do sonhador, como a promessa de um dia que passou sem ser visto.

Alysson David Reis

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

11/02/2011 - 04:16 da manhã

Há muito tempo este tem sido meu único modo de falar, meu único modo de ser, meu único modo de existir. Escrever se tornou sinônimo de viver, já que a maior parte da minha vida é imaginária e a outra parte é feita de lembranças. Até mesmo o presente já é parte desta coleção de memórias, que vem e vão em noites vaporosas, como companhias estranhas; os meus velhos visitantes desconhecidos. Para quem eu escreveria pela ultima vez? Senão para cada habitante dos quartos vazios que preenchem os longos salões da minha mente. Que já não é mais tão confiável e ainda assim tem sido um lar para os mais loucos pensamentos e para as mais solitárias companhias que encontrei nos becos escuros do acaso ou nas tramas torpes da vida. Da vida bem vivida, através de momentos bem vividos. O que posso deixar além de palavras incapazes de serem compreendidas por qualquer vestígio de razão?

Meu legado são restos mortais espalhados em cada poema, em cada ato impensado ou em cada instante apaixonado ou embriagado. Deixo a paixão pelas coisas simples, pela vida, pela morte, pela arte de viver plenamente como um verdadeiro poeta deve fazer. Que me siga qualquer carcaça que ainda carrega uma alma ou qualquer assassino que tenha se apaixonado por sua vítima.

Alysson David Reis

Contos para os que se foram

Contos, poemas, palavras a dizer...

Fotografias ardendo no fogo, cartas devoradas

Pelo deus chamado tempo.

Ao vencedor uma pilha de carcaças e ao poeta uma taça

Da mais antiga safra dos campos do ceifeiro.

Na taverna rostos desaparecem na fumaça, corpos dançam no palco

e almas se vendem nas esquinas; enquanto os jovens morrem no baile dos anciões.

Ossos são quebrados na estrada, mas no fim são os corações que terminam partidos.

Este sonho nasceu tardio e morreu prematuro, envenenado pela mente que o concebeu.

Ainda estamos morrendo, apesara dos sorrisos ensandecidos.

A pele é quente mas o coração ainda é frio.

Frio como esta noite, vazio como esta casa e perdido como os teus olhos.

Alysson David Reis

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Morte lasciva

Ela esta de pé diante da janela, as luzes da cidade iluminam seu rosto.

Seus seios parecem querer rasgar sua blusa. Ela esta perdida, ela quer morrer,

ela quer desaparecer na chama que surge do atrito entre dois corpos nus.

Deitados nas próprias cinzas, respirando a fumaça de carcaças incandescentes;

respirando o perfume dos restos mortais daqueles que viveram um sonho extinto.

Daqueles que morreram no fio da navalha ou adormeceram no esquecimento.

Meu corpo saciará minha garota e meu sangue saciará a terra.

Lábios sedentos bebem da pele suada, mãos trêmulas esmagam gargantas.

O fogo nos encobre e mais uma vez seus olhos desaparecem antes mesmo da noite surgir.

E lentamente se foi; balançando as cortinas, exalando seu perfume e intoxicando minha mente...

Como uma imagem fumegante, no calor da noite mais delirante; como um conto da embriaguez, ou uma lembrança sombria forjada na loucura.

Alysson David Reis