terça-feira, 17 de agosto de 2010

A você que se lembra de mim ...

A você que se lembra de mim, em algum lugar que por mim foi esquecido. Eu tenho ido aonde nunca chegamos, eu tenho visto o que nunca imaginamos... Eu tenho sido quem você nunca conheceu. Eu atravessei a fronteira de onde acreditávamos não haver nada e encontrei aquilo que nos aterrorizava de dentro da escuridão. Eu me tornei o que não compreendo, há uma voz em minha cabeça que balbucia uma língua extinta. O que não vemos é o que nos segue de perto e o que tememos é o que somos por dentro. Há uma estrada em meus olhos que te conduzirá ao fundo de minha mente, há uma porta no escuro esperando para ser aberta... Há uma face cortada que esta exposta na galeria, seus olhos são espelhos que refletem tudo a sua volta. A pele cheia de cicatrizes é uma parede cheia de retratos.

A você que esta perdido nas lembranças da dor, a você, parado atrás da porta... A você que esta morto na imensidão obscura da memória. Eu o saúdo de dentro da sua cabeça, eu sou uma memória que esta desaparecendo e isto é um sonho que esta terminando.

Alysson David Reis

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O mundo segue sem mim, contudo não deixo de seguir a multidão de longe. Talvez esperando surgir à besta que os devorará diante dos meus olhos. Não que eu odeie tudo, apenas tenho esperado por muito tempo por um pouco de silêncio. Enfrentando cada manhã na esperança de encontrar paz na noite, atravessando cada noite temendo o dia que se aproxima. Tenho me cansado sem esforço, tenho odiado sem razões e tenho falado sem ser ouvido. Tudo o que busquei se mostrou não ser exatamente tudo o que eu queria, pois na verdade não havia nada que eu quisesse no mundo. Será a redenção o que busco? O inferno apagará a suposta culpa? Contudo não estou calmo o suficiente para ser crucificado, e nem mesmo me restou raiva suficiente para incendiar o inferno. O sol poente é uma fogueira que me atrai no horizonte, encontre-me na fronteira que separa dia e noite para sempre...

Alysson David Reis

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sangue, bebida e suor: O retrato de uma dessas noites

O que nos tornamos além de pessoas cansadas? Nada seremos além de retratos, nada nos restará além de lembranças amarguradas e embriagadas. O amor por vezes nos maltrata e nos consome. É um drink de suor, saliva e lágrimas. Contudo pior é a agonia da distancia do que o impacto da proximidade. O livro continua aberto na mesa, mil poemas para descrever a mesma velha dor. Todos os dias chegamos ao fim do que penssávamos ser a vida, mais um capítulo da trágedia que continua a ser escrita em jornais manchados de sangue. Alimentamos o que nos consome e depois matamos uns aos outros para consumir o que nos mata, nada durará até o amanhecer. Há sexo nas ruas e morte nas esquinas, eterna será a noite de quem jamais verá o dia. A paisagen noturna se confunde com a escuridão interior enquanto a lascívia acende o fogo em nossos olhos, iluminando nossas faces, guiando nossas mãos, aproximando nossos lábios e aquecendo nossa pele. Dedos afáveis e carícias violentas, mergulho em sua pele e dreno seu perfume. Corpos se comprimem uns contra os outros, esmagando a solidão que não para de crescer como uma cova em baixo de nossos pés.

Maldito aquele cujo a garrafa esta vazia e feliz aquele que morre vítima do próprio desejo. Porque uma vida sem paixão é um livro sem palavras, o infinito é o nada e o nada é tudo o que somos.

Alysson David Reis

P.S.: É melhor ter a morte caminhando ao seu lado do que em sua direção.