segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Registros remanescentes de momentos atormentados de sábia loucura


O deserto é uma dádiva, a solidão entra em sincronia com meus pensamentos e nuvens negras abrigam meus ombros do sol hostil. Estou pairando acima de um lago gelado, meu corpo refletido estende sua mão e me puxa para baixo. Ouço um clamor que vem das montanhas que tocam o céu; ouço uma canção que vem do inferno e vejo o horror estampado na face deformada da terra.

Escrevo-lhe estes poemas, que se tornam epitáfios de cada dia que se finda, de cada pessoa que se despede e de cada garrafa que se esvazia... Mas esta tudo em minha cabeça. É só um pedaço de papel queimando em minhas mãos; a mesma bala queimando a pele, comendo a carne. O céu é um manto azul que encobre os pecadores aos olhos de seu criador arrependido. Caminho acima do inferno, bebendo da taça que está vazia, enganado por olhos que transbordam.

A última taça, incompleta como um corpo sem vida, derradeira como cada dia, finita como a existência. Nós existimos para a beleza da tragédia ou do esperado final feliz. Existimos para ser a composição de um poema e viver para sempre em uma canção. Essa capacidade da tragédia de conceber a beleza é terrivelmente bela, tão bela quanto a fragilidade, tão fascinante quanto a violência... Tão dolorosamente bela quanto a vontade de machucar. Essa vontade atormentada que queima na ponta de meus dedos trêmulos, que faz com que eu me tranque, para que o assassino não saia e a vítima não entre. A vingança sem origem, punhos cerrados sem direção; os pés cansados sem nenhum caminho a seguir. Só me resta adentrar na escuridão do desconhecido, para onde sempre me levam os meus desejos.

Alysson David Reis

2 comentários:

  1. "Só me resta adentrar na escuridão do desconhecido, para onde sempre me levam os meus desejos."

    Seria, com certeza, a mais brutal coragem um ser humano entrar no escuro e desconhecido por um desejo absoluto. Mas quem é mesmo vocÊ? Convivi contigo um semestre? rsrs

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  2. "Nós existimos para a beleza da tragédia ou do esperado final feliz. Existimos para ser a composição de um poema e viver para sempre em uma canção. Essa capacidade da tragédia de conceber a beleza é terrivelmente bela, tão bela quanto a fragilidade, tão fascinante quanto a violência..."

    Realmente, não há nada mais belo que a tragédia. Sem ela não há razão para o final feliz. Peraí, final feliz, existe? .. rs

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