O deserto é uma dádiva, a solidão entra em sincronia com meus pensamentos e nuvens negras abrigam meus ombros do sol hostil. Estou pairando acima de um lago gelado, meu corpo refletido estende sua mão e me puxa para baixo. Ouço um clamor que vem das montanhas que tocam o céu; ouço uma canção que vem do inferno e vejo o horror estampado na face deformada da terra.
Escrevo-lhe estes poemas, que se tornam epitáfios de cada dia que se finda, de cada pessoa que se despede e de cada garrafa que se esvazia... Mas esta tudo em minha cabeça. É só um pedaço de papel queimando em minhas mãos; a mesma bala queimando a pele, comendo a carne. O céu é um manto azul que encobre os pecadores aos olhos de seu criador arrependido. Caminho acima do inferno, bebendo da taça que está vazia, enganado por olhos que transbordam.
A última taça, incompleta como um corpo sem vida, derradeira como cada dia, finita como a existência. Nós existimos para a beleza da tragédia ou do esperado final feliz. Existimos para ser a composição de um poema e viver para sempre em uma canção. Essa capacidade da tragédia de conceber a beleza é terrivelmente bela, tão bela quanto a fragilidade, tão fascinante quanto a violência... Tão dolorosamente bela quanto a vontade de machucar. Essa vontade atormentada que queima na ponta de meus dedos trêmulos, que faz com que eu me tranque, para que o assassino não saia e a vítima não entre. A vingança sem origem, punhos cerrados sem direção; os pés cansados sem nenhum caminho a seguir. Só me resta adentrar na escuridão do desconhecido, para onde sempre me levam os meus desejos.
Alysson David Reis
"Só me resta adentrar na escuridão do desconhecido, para onde sempre me levam os meus desejos."
ResponderExcluirSeria, com certeza, a mais brutal coragem um ser humano entrar no escuro e desconhecido por um desejo absoluto. Mas quem é mesmo vocÊ? Convivi contigo um semestre? rsrs
"Nós existimos para a beleza da tragédia ou do esperado final feliz. Existimos para ser a composição de um poema e viver para sempre em uma canção. Essa capacidade da tragédia de conceber a beleza é terrivelmente bela, tão bela quanto a fragilidade, tão fascinante quanto a violência..."
ResponderExcluirRealmente, não há nada mais belo que a tragédia. Sem ela não há razão para o final feliz. Peraí, final feliz, existe? .. rs