Com ou sem minha permissão, irá
acontecer, desejando ou não, o Rei Lagarto irá terminar sua obra. E assim, no
final que se provou mais apropriado, eu mesmo me tornarei o tema do derradeiro poema.
Eu sou o Rei Lagarto, mas o Rei não sou eu. Serei então despedaçado, espalhado
e reorganizado em versos; nas páginas em branco que me restam. Eu o criei para
que me destruísse, eu o compus para então ser decomposto entre seus dedos. Eu sou
a vítima de minha própria obra. As mãos que esmagam minha garganta me
pertencem; sou eu o culpado, o assassino, o violador, a doença...
Sou eu a resposta para a pergunta
que há tanto tempo já esqueci. O nome que me foi dado, me foi dado para ser
apagado; o nome que escrevi, escrevi para me substituir. Eu sou a sombra que
lidera a legião de pesadelos, que desabam feito pedras sobre minha cabeça insone.
Só estou aqui por que o descrevi;
o melhor dentre os piores e senhor daqueles que não se curvam a ninguém. Eu sou
o que compus, eu compus o que sou e compus para que fosse varrido da existência
tudo o que já fui...
Eu sou o Rei Lagarto e no entanto
o Rei não sou eu! Pois sou aquele que cria, para então existir...
Alysson David Reis